“Treze”, de FML Pepper

30/08/2017 2956 visualizações

Por Frini  Georgakopoulos

“Oi, posso falar rapidinho sobre o meu livro?”, comentou uma mulher muito sorridente durante uma edição do Clube do Livro Saraiva. Essa moça era FML Pepper e o livro era Não Pare!, o primeiro da trilogia que a despontou como autora. Claro que dei o microfone para ela e bastou a frase “Minha protagonista se apaixona pela própria morte” para Pepper me ganhar!

E tudo que Pepper escreve tem o mesmo ritmo que ela: acelerado e envolvente. Ela consegue mesclar temas sombrios com a possibilidade de redenção, tensão e expectativa com reviravoltas e romance. É responsável por uma montanha-russa de acontecimentos que ocorrem na página e no coração de cada leitor.

De sorriso largo, olhar brilhante e muita, mas muita empolgação, Pepper cativa qualquer pessoa que passa por seu caminho. Porque ela é muito apaixonada pelo que faz, tanto a parte autora como a parte dentista. Sim, Pepper é dentista e já teve pacientes que foram até o seu consultório só para pedir autógrafo. Imagina a cena! (risos)

Quando lancei meu primeiro livro, no ano passado, Pepper fez questão de fugir da sua agenda superatribulada durante a Bienal de São Paulo para passar no estande da editora, comprar o meu livro e pedir autógrafo. Somos amigas, não precisava fazer isso, mas ela sabia o quanto seria – e foi! – importante para mim. Ela é assim: genuína e transparente.

Já deu para notar que sou muito fã da Pepper, né? E foi por isso que aceitei o convite da querida Thaís Britto, assessora de imprensa do Grupo Editorial Record, para fazer essa entrevista com ela. Então chega mais e dá uma olhada no papo que tivemos sobre seu processo de escrita, inspirações e, claro, o maravilhoso lançamento Treze.

Você me disse uma vez que não tinha o hábito de ler, mas que descobriu esse prazer durante a sua gestação de risco. Quais foram os seus preferidos nessa época? E agora, depois de publicada com tanto sucesso, as suas preferências mudaram?

Peraí, eu não tenho tanto sucesso assim, Frini! Os meus livros preferidos durante a gestação foram: o Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, Drácula de Bram Stoker, O Velho e O Mar de Ernest Hemingway, Orgulho e Preconceito de Jane Austen, Harry Potter de J.K. Rowling, a série Crepúsculo de Stephenie Meyer, A Menina que Roubava Livros de Markus Zusak, o Caçador de Pipas de Khaled Hosseini, entre outros maravilhosos que não me recordo agora.
Curiosamente, eu acabei lendo de tudo um pouco na gestação porque, como eu não tinha o hábito da leitura, consequentemente eu também não possuía um gosto formado. E talvez isso tenha sido excelente porque não tive qualquer tipo de preconceito quanto a gêneros, quis experimentar, sentir na pele o que cada um tinha a oferecer. Continuo sendo eclética e aprecio de tudo um pouco, mas minha predileção ficou estacionada nos livros juvenis (young adult e new adult), aqueles que possuem uma pegada jovem, leituras fluidas, rápidas, com bastante ação, reviravoltas e romance.

Ter inspiração para uma história, uma cena, um personagem é um processo. Moldar tudo isso e transformá-lo em um projeto para um livro é outro. Como são ambos para você?

Para mim, a inspiração é mais que um processo, é algo mágico e sem explicação. Já a construção de uma cena ou de um personagem, aí sim, seriam moldados a partir de um projeto. Costumo dizer que os meus personagens são verdadeiros “Frankensteins”, um amontoado bem costurado de pedaços de pessoas que conheço, personagens de livros, filmes e etc. As cenas, da mesma forma, são fragmentos de lugares, filmes, informações que ficaram no subconsciente. Aí você junta tudo, chacoalha e voilá! Agora, ter inspiração para a história é muito difícil de explicar. Eu, por exemplo, acho que não seria capaz de escrever uma trama “por encomenda”. Óbvio que, se o autor não sentar para trabalhar, permitir-se entregar-se às emoções, nada surgirá. A escrita é um ofício e, como tal, exige compromisso. Mas, ainda assim, acredito que a ideia principal, aquela que fará toda a diferença e não será apenas mais uma no meio de tantas outras, deve vir naturalmente, surgir bem do fundo do seu coração. E aí eu começo a destrinchá-la, tipo: “Vem aqui, vamos ver como você é!” (risos)

Resumidamente o projeto seria a coluna mestra, o esqueleto. Depois disso é que eu começo a colocar os músculos, as veias, a pele, os cabelinhos, vou dando forma. Essa parte depende de muita transpiração! Fico matutando a ideia para ver como você pode dar credibilidade ao que está escrevendo.  Porque para mim, Frini, o mais importante de tudo é acreditar que o meu leitor é mais inteligente do que eu. Imaginar onde ele pode me encurralar… Porque eu sei que ele vai tentar me pegar em algum momento! (risos)
Então, dito isso, devo estar sempre atenta aos detalhes para que seja eu a surpreendê-lo.

Você é mãe, esposa, dentista de agenda cheia e autora de sucesso. Mulher (Maravilha), como é a sua rotina de escrita? Me ensina, porque quero ser igual a você!

A resposta é simples: amor pelo que faço e disciplina. Tem que gostar muito, ter muita paixão pelo que faz e ser rigorosa com o pouco tempo que tenho disponível para a literatura. Minha rotina: de manhã dar atenção ao meu filho, ajudá-lo nas tarefas escolares, levar para aula de natação, futsal e etc, preparar seu almoço e levá-lo para o colégio. De lá vou para o meu consultório e atendo até à noite. Chego em casa tarde e aí eu vou dar atenção ao meu marido e às tarefas do lar, minhas cachorrinhas e às mídias. Como eu acordo muito cedo, aproveito para dar atenção às mídias nesse horário também (antes do meu filho acordar) ou quando tenho um tempinho ao longo do dia, em especial quando falta algum paciente no consultório. Destino impreterivelmente as terças e as quartas à tarde para a literatura (às vezes alguma madrugada insone também!). Se não for nesses períodos, perdi o meu momento de escrever. Por isso a minha produção acaba sendo pequena, pois, além de ser lenta para escrever, meu tempo é bem curto. Aí que entra a disciplina e o amor: tanto para a escrita, quanto para a odontologia, caso contrário as coisas simplesmente não andam.

Morte, mundos paralelos, profecias e agora misticismo e muito mais. O fantástico sempre está paralelo ao “real” na sua escrita. O que te atrai nesses elementos?

Talvez o que me fascina nessas questões místicas e na morte é porque há muito mistério a respeito desses tópicos e isso, ainda que inconscientemente, gera curiosidade. Dúvidas e mais dúvidas. O que acontecerá conosco após a nossa morte? O que encontraremos do outro lado? Existe o outro lado? São tantas questões que a humanidade carrega consigo, independente de credo ou origem. De uma forma mais leve, obviamente, acho interessante trabalhar esses questionamentos do ser humano com o público jovem também, cada dia mais perspicaz e antenado, e aproveito para jogar uma pitada de ação e romance, claro!

Conta pra mim como foi deixar a trilogia Não Pare! para trás e encontrar Treze? Como foi trabalhar uma trilogia (de estreia! O que já é muito difícil de vender) e daí para estruturar um romance de volume único. Mais fácil, mais difícil, complexo, delicioso, tudo misturado?

Quem disse que eu deixei a trilogia Não Pare! para trás?!? (risos)
A saga da garota que se apaixona por sua própria “morte” foi e ainda é muito presente na minha vida, os personagens ainda “conversam” comigo. Em todos os lugares que vou os leitores pedem mais, perguntam se realmente acabou. Eu digo que sim… E não! Porque sinto que ainda há o que contar, mas só o farei se for para escrever algo que possa fazer a diferença, caso contrário é melhor deixar como está.

Quando comecei a escrever, depois da minha gravidez de risco, nunca imaginei que seria uma trilogia. Minha intenção era dividir com outras pessoas a história que veio a minha mente, mas percebi que ela ficaria grande demais (mais de mil páginas!) e eu, como autora estreante e desconhecida, jamais conseguiria publicá-la. Talvez nem o Stephen King! (brincadeira, o Stephen King pode tudo!). Foi aí que seccionei a história em momentos importantes da trama, dividindo-a em três partes, ou melhor, em três livros.

Treze foi completamente diferente de Não Pare!. Na trilogia a história foi lentamente trabalhada, construída pedaço por pedaço, dia a dia. Em Treze a sensação que tenho (e que realmente acredito!) é que a história queria ser contada. Eu sei… Isso não tem explicação, mas é a mais pura verdade. A trama de Rebeca e de Karl surgiu de forma galopante, intensa e rápida (para os meus padrões!). Não sei dizer se foi mais fácil ou difícil, mais gostoso ou não. Foi, assim como você mesma disse, isso tudo misturado. Em um livro único (stand alone) você tem menos tempo para tornar os personagens realmente atraentes aos olhos do leitor, o que para mim foi um desafio. Por isso, Treze se tornou tão especial e maravilhoso!

No seu trabalho, sinto a crítica ao que se espera de uma pessoa, à pressão de ser/agir como é esperado. Isso aconteceu de forma consciente ou foi meio que por acaso?

Nossa! Nunca tinha percebido isso! (risos)
Eu acho que em alguns momentos o acaso e o consciente se chocam ou se conectam de uma forma curiosa e indissolúvel. E talvez, inconscientemente, eu tenha tecido uma trama bem costurada entre os dois, onde não se perceba onde um começa e o outro acaba, mas que expressa a minha forma de ser e de pensar.

Conta para a galera – sem spoilers – o que esperar de Treze?

(risos) Sem spoilers é difícil, poxa! Treze narra a história de Rebeca, uma garota cética, ateia até o último fio de cabelo, uma hacker habilidosíssima que, às vésperas de realizar o maior golpe de sua vida, vai com uma amiga a um parque de diversões decadente. Lá ela se depara com uma enigmática cartomante que, contra a sua vontade, fará terríveis previsões sobre seu futuro. Rebeca ignora os alertas da mulher e, conforme profetizado, sua vida entra em uma derrocada sem fim, em uma espiral de perdas e fracassos. Mas, em meio aos avisos sombrios da vidente, havia um bom, o único, e se referia a uma charada ao redor do número 13. Decifrar e aceitar esse enigma seria sua salvação, mas, para seu horror, Rebeca teria que se despir de seus princípios. Ela precisaria, verdadeiramente, acreditar e ter fé. E fé era tudo que ela não possuía.

Para terminar, não quero saber só sobre os próximos projetos, mas também o que está ocupando sua mente e seu coração no Mundo das Ideias: o que você gostaria de abordar em próximos livros?

Meu sonho é transformar Treze em um sucesso de público e vendas, assim como foi com a trilogia Não Pare! e pretendo trabalhar duro para isso! Nesse momento minha mente e meu coração estão voltados para uma distopia que está começando a conversar comigo, sussurrar em meu ouvido. Não há nada definido, nenhuma estrutura pronta, mas com certeza terá a minha assinatura: será rápida, com reviravoltas e para o público jovem. Nos meus livros tento trazer, dentro de situações críveis, uma mensagem positiva, principalmente porque são voltados para os jovens. Não sei se sempre vou conseguir, mas tentarei. Talvez por ser mãe e por já presenciar maldade demais no mundo, sinta essa necessidade de trazer uma pitada de otimismo para a ficção que faço.